Aquele Natal seria como tantos outros, se não fosse por uma ligação do hospital. Fazia algum tempo que meu marido visitava aquele rapaz. Na última visita, fui junto à UTI.

O quarto do rapaz ficava no fim da ala. No pequeno espaço, havia a cama, a poltrona onde a mãe ficava longos dias e noites, o criado com livros e revistas e o suporte cheio de aparelhos. Na parede, a imagem do rapaz de vinte e poucos anos, bonito, alto e sorridente contrastava com o paciente estendido na cama, de cabeça raspada, braços finos, abdômen inchado, olhos parcialmente cerrados, ligado a vários fios.

Ficamos um pouco ali. Acariciei aquele braço imóvel, num desejo incontido de ver vida, brilho e cor naquele corpo tão jovem. Oramos pela misericórdia divina, deixamos um livro sobre a vida de Jesus, para a mãe receber um conforto quando voltasse, e saímos de coração apertado.

E o Natal chegou. Naquela ligação, a mãe desesperada chorava a morte do filho. Voltamos ao hospital. O corpo sem vida e outrora tão belo jazia sobre uma mesa fria de necropsia, semicoberto por um lençol.

A mãe sozinha chorava pela perda, pelo desamparo e pela falta de condições de dar um fim digno ao filho. Abraçamos aquela mulher e choramos juntos. Meu marido tomou as providências para que o corpo fosse levado à sua cidade e, na funerária, nós nos despedimos da mãe e de alguns amigos que a acompanhariam. Já eram 15 horas quando fomos para casa nos arrumar para o almoço.

À noite houve a ceia com árvore de Natal, presentes, comida gostosa, confraternização, abraços, risos e alegria. Mas a cena daquela mãe chorando a perda do filho, e, em seguida seu abraço de gratidão, o aceno e o sorriso que tentava esboçar ficaram guardados.

O que você programou para este Natal? Os preparativos o tornam especial, porque é um tempo para comemorar vitórias e renovar os laços com quem amamos. Mas não podemos parar aí. Natal simboliza a vinda de Jesus a uma terra desolada pelo pecado para oferecer vida, luz, amor, perdão e esperança. E servir ao próximo é viver o Natal no seu sentido mais completo.

Repense no que você planejou para celebrar o Natal de verdade. A quem você pode ajudar?