Quinta-feira
31 de outubro
Vida de cachorro
Então Jesus lhe disse: “Porque Me viu, você creu? Felizes os que não viram e creram.” João 20:29

Quando o levamos para casa ele era um pouco maior do que um rato. “Cresceu”, mas não ficou maior do que um gato. Nosso cãozinho é uma mistura de pequinês com “rasga-saco” (cão vira-lata atualizado). Ele mora na varanda e sempre reparte sua água com um sapo gordo que nas noites quentes vem para se refrescar ali.

Aos três anos de idade, Dick já tinha muita história para contar. Uma vez ele desapareceu sem deixar bilhete. A tristeza foi geral. Nunca imaginei que o sequestro de um cachorro pudesse provocar tanta comoção. Inconformada, minha filha e sua amiga Maria resolveram fazer uma busca. Acharam o local do cativeiro em uma vila a cerca de dois quilômetros de nossa casa. Elas conseguiram resgatá-lo, mas como saldo dessa aventura, Dick ficou manco de uma perna até hoje.

Nas manhãs, ele gostava de cochilar à sombra de um pé de jambolão. Mas um dia, acordou em um pesadelo: entre os dentes de um bóxer. O enorme cão o abocanhou pela cabeça. Dick escapou com vida, mas perdeu um olho.

Dick desapareceu de novo. Nós o procuramos no bairro, fomos à vila para onde o levaram a primeira vez e nada. Perdemos a esperança, tiramos a casinha dele da varanda e cessamos as buscas. Mas, três semanas depois, em um dia de muita chuva, ele apareceu como por encanto, à noite, limpo e cheiroso.

Para completar as aventuras de um cachorro como ele, só faltava um atropelamento, e disso eu mesmo me encarreguei no primeiro dia de um ano-novo. Estávamos chegando em casa e, enquanto me dirigia para a garagem, ele atravessou o caminho para me saudar. Dick ficou imprensado sob a roda do carro, entre a calçada de pedra e o gramado. Saiu dessa com algumas escoriações e inchaços.

Às vezes penso na “vida de cachorro” desse animal. Os cães são míopes por natureza. E, sem um olho, seu campo de visão fica muito limitado. Mas Dick continua feliz, correndo atrás de gatos e passarinhos. Tem gente que exige ver para viver. Mas Jesus disse que felizes são as pessoas que conseguem viver sem ver; que, mesmo não O vendo, confiam Nele. Na vida com Jesus, ver não é o mais importante. Confiar é muito mais. Ao orar, peça a Deus que o ajude a perceber aquilo que seus olhos não podem ver.