Na metade do caminho para o outro lado do mundo, aspiro o calor tropical e o cheiro de mofo. As pequenas ondas azuis se justapõem a casebres caindo aos pedaços e ao gigantesco despejadouro de lixo da cidade, dando novo significado à expressão “propriedade à beira-mar”. Pequenos corpos bronzeados olham fixamente e se escondem, enquanto os ocidentais percorrem seu pequeno atol. Garotas adolescentes vestindo saias jogam vôlei numa quadra enfeitada com grafite. Faces adultas descoradas sorriem amistosamente, pois sabem que fazemos parte da equipe médica que veio a Ebeye, nas Ilhas Marshall, para proporcionar o muito necessário atendimento na área da audição.

Dentro da clínica, sinto-me gratificada por fazer parte da equipe de audiologia que veio testar a audição do povo. Uma bonita garota de dezesseis anos chega com sua mãe, em busca de tratamento. A menina tem surdez desde que nasceu, e nossa impossibilidade de ajudá-la me dói no coração. Elas sorriem, resignadas, mas retornarão toda vez que a Equipe da Audição voltar à sua ilha.

Um cavalheiro idoso, encurvado, entra arrastando os pés, praticamente incapaz de comunicar-se devido à perda da audição. Dessa vez, a Equipe de Audição pode ajudar. O rosto do velho homem se ilumina com um alegre sorriso, quando o aparelho de audição lhe dá a renovada capacidade de ouvir.

– Kommol tata! – ele repete emocionado, abraçando cada um dos membros da equipe antes de sair, andando ereto.

No último dia, os habitantes da ilha nos demonstram seu apreço. Cantam a cappella. Batem palmas. Marcham. Entregam-nos lembrancinhas feitas à mão. Discursam. Nós choramos. Eles despejam seu apreço. Nós nos sentimos humildes por ter feito parte disso. Sabemos que os marshalleses vivem na pobreza, mas não vivem sem esperança. Assim, experimentamos a ironia em tempo real: nós viemos para dar, mas eles nos devolvem ainda mais. E o denominador comum é Jesus, nosso Salvador. Ele é a razão, a despeito de qualquer circunstância desafiadora, de podermos apreciar esta vida e aguardar a próxima.

Essa missão médica de curta duração me transformou, aprofundando minha compaixão, renovando meu compromisso, expandindo minha alegria. Ela me desafiou a viver cada dia com o senso da missão para a qual Deus me chama.

Donna Reese