Uma antiga canção tem ecoado em minha cabeça constantemente nos últimos tempos. É uma do gênero que, por muitos anos, foi rotulado como Negro Spiritual. Provém da experiência dos escravos. O verso que se repete é: “Às vezes me sinto como uma criança, bem longe de casa.”
É um lamento, com certeza, e por vezes soa como um canto fúnebre. Sua tonalidade menor e a letra solene me levam a um lugar de tristeza, perda e desespero. Pelo menos, tenho pensado por muitos anos que viajei àquele lugar chamado desespero sobre as asas dessa canção.
Muitas mulheres empreenderam essa viagem.
Recentemente, percebi que a verdade era justamente o oposto. Foi essa canção que acionou o reconhecimento de que eu estava para afundar em um lugar profundo. Foi uma advertência e um corretivo. Ela me disse que eu estava a ponto de permitir que a vida me derrubasse e me levasse a esquecer quem sou e a quem pertenço. Foi meu toque de despertar. Foi uma lição, na verdade.
Como você sabe, os Negro Spirituals usam mensagens concebidas e cantadas em múltiplos níveis, para comunicar esperança e apontar uma direção. Isto é, suas mensagens explícitas não eram o seu verdadeiro significado.
Com frequência, as letras dessas canções eram a antítese de sua verdadeira mensagem. Essas canções aparentemente simples eram parábolas musicais com o desígnio de dar esperança, embora soassem desesperançadas.
“Às vezes me sinto como uma criança sem mãe, bem longe de casa” realmente me diz: “Embora pareça que não tenho origem, nem raízes, nem casa, na verdade tenho uma rica origem, a imagem de Deus, e um lar maravilhoso, bem longe – física e mentalmente – deste lugar de sofrimento.”
Ela diz que minha confiante esperança é voltar para lá algum dia.
Todas nós temos um lar bem longe daqui; e a esperança de cada filha de Deus é voltar para lá em breve.
Outra canção me faz lembrar de que, se formos fiéis, chegaremos lá um dia.
Ella Louise Smith Simmons